terça-feira, 5 de outubro de 2010

Hipocrisia em alta

A primeira vez foi tentativa de impugnar a candidatura Tiririca sob a alegação de que teria sonegado informações sobre seus bens. Agora, a acusação é de que seria analfabeto.

Custo a crer na hipocrisia que insiste em dar as caras quando alguns interesses são ameaçados. Tiririca disse aquilo que todo brasileiro sabe. "Pior do que está (os legislativos do Brasil) não fica". E não ficam mesmo.

Depois de uma batalha enorme da sociedade brasileira, o projeto Ficha Limpa foi aprovado na Câmara Federal e no Senado. Políticos condenados em decisão colegiada estariam proibidos de disputar algum pleito. Houve grita geral. Ações na Justiça. Os ratos de duas pernas gritaram.

O caso seguiu para a suprema corte do Judiciário. Nem lá houve consenso. Estava empatado em 5 x 5, quando o presidente, ministro Cesar Peluso, correu para o muro, deixando a responsabilidade nas mãos do eleitor. Ou seja, o eleitor que não votasse nos fichas sujas. Mas como saber quem é ficha suja se a imprensa não divulga?

Após a apuração, alguns políticos sujos foram eleitos. A decisão, que deveria ter sido tomada anteriormente, vai dar o que falar. Dependendo do nomes e renomes dos sujoas, a decisão poderá ficar para 2014. Ou aumentar-se-á o número de políticos na Cãmara e no Senado. Os atuais 513 e 81 podem ser tornar mais para abrigar sujos e limpos. Uma festa com o chapéu do povo.

Mas com o Tiririca não é assim. Ministério Público já mandou investigar se o eleito com maior número de votos mentiu ao dizer que não é analfabeto. Um crime grave, se verdadeiro, cometido pelo deputado federal recém eleito. Se a Justiça fosse tão rápida assim, o Judiciário não estaria empastelado de processos.

É bem provável que Tiririca seja impedido de assumir o cargo, mas os fichas sujas assumirão com os votos de felicidades da Justiça brasileira. É muita hipocrisia. Excessiva. Demasiada.

Hoje, ser analfabeto é muito mais grave do que desviar dinheiro público ou cometer atos de improbidade administrativa no exercício do poder. O caso Banestado está sepultado, vivo e inconcluso, no Ministério Público Federal. Nada mais do que 52 mil  bons e ilustres brasileiros foram descobertos pelo delegado Castilho, nos EUA, como pessoas que mandaram dinheiro do crime organizado ou público aos paraísos fiscais. O caso está sob Segredo de Justiça, um mirabolante artifício de impunidade criado no mês terminal do governo FHC. Isso não chama a atenção do MP nem de ninguém. Mas o Tiririca...

Tá na hora de eleições no STF. Os ministros não podem mais ser indicados políticos, mas votados pelo povo. Creio que estariam bem mais próximos das decisões dos interesses da sociedade. Após o episódio Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, o STF perdeu a imparcialidade de ver todos os brasileiros como iguais. Essa Justiça já foi cega. 

População paulista: é hora de um picolé de chuchu

Alckmin foi reeleito, mesmo com toda incapacidade administrativa demonstrada em seis anos (dois de Covas e quatro dele próprio) de governo.

O governador recém reeleito é autor de inúmeras ações que ajudaram a destruir São Paulo e a vida de milhões de pessoas. Mas, então, por que Alckmin foi eleito no primeiro turno?

Uma das estratégias dos governos tucanos é comprar a grande imprensa com dinheiro público. Isso não se dá de forma direta. Mas pela compra e assinaturas de jornais, revistas ou propaganda de estatais ou do próprio governo sem licitação na mídia falada e televisada. É assim que os jornalões e revistões, emissoras de tv e rádio mantêm-se em silêncio total sobre as maracutaias do governo paulista. Enquanto o governo federal pulverizou o dinheiro da propaganda para mais de cinco mil veículos de informação, os governos tucanos seguem a máxima da concentração nas mãos dos grandes.

Durante o governo Alckmin (2002 a 2006), 69 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) foram engavetadas pela tropa de choque na Assembleia Legislativa e não foram divulgadas na grande mídia, exceto na internet e nos blogs independentes (mídia alternativa).


Descaso: Obras em andamento nas escolas durante ano letivo

Um dos cânceres das adminstrações tucanas é a aprovação automática. Não só isso, mas o enfraquecimento da classe dos professores devido à temporalidade nas contratações. O professor deixa de ser um servidor público efetivo e passa a ser um contratado por um período determinado. Nessa situação estão cerca de 100 mil profissionais. Com relação à aprovação atutomática, o aluno vai superando as séries colegiais sem o preciso aprendizado, colhendo os frutos amargos da falta de instrução e até de formação no futuro. Uma outra estratégia tucana na educação foi passar algumas escolas para os municípios, servindo de moeda de troca para conchavos e maracutaias políticas municipais. A preocupação com os jovens é zero vezes zero.

Na saúde não é diferente. Os cidadãos têm sido penalizados nos atendimentos especializados e de média complexidade, fruto, talvez, da forma como os tucanos lidam com os serviços públicos, ou seja, tudo passam para a iniciativa privada. As Organizações Sociais receberam cerca de 20 hospitais, não são fiscalizadas e nem fazem licitação para compra de material.

Na segurança pública está a maior obra de Alckmin. Foi durante o governo dele, em 2006, que o crime organizado colocou o estado de quatro. Os ataques do PCC deixaram um saldo muito grande de mortos, além de sequelas psicológicas nas pessoas. Também foi durante os governos tucanos que a PM entrou em confronto com a Polícia Civil.

Mesmo sendo alertado que o crime se organizava dentro dos presídios, o governador Alckmin fez ouvidos moucos. Hoje, o crime organizado está fortalecido e manda no estado paulista. Durante a série de ataques em 2006, um representante do estado, cel Ailton Araujo Brandão, então comandante do policiamento da capital, foi até o presídio de segurança máxima no interior paulista e, em tom de submissão, teria pedido ao Marcola, líder do PCC: "pô, seu Marcola, ajuda a gente". Essa fala do "estado" teria causado a indignação daqueles que lá estiveram.

Outras áreas, como transportes, saneamento, habitação, também foram deixadas de lado pelo então governador Alckmin. Nos transportes, o superfaturamento de obras no Rodoanel e seus constantes aditamentos, o Metrô a passos de tartaruga e outras obras. Um outro ponto em relação aos transportes é a explosão de praças de pedágios. São Paulo é hoje o estado com mais pedágios do mundo, fruto da ideologia privatista que nutre a legenda tucana.

O saneamento básico no governo Alckmin também não andou bem. A Sabesp também foi, aos poucos, passando para a iniciativa privada. Em 2000, o estado controlava 85,30% das ações da empresa. Já em 2004, passou para 50,3%. Na será surpresa se, a partir de 2011, se consumar a privatização, deixando para os consumidores o preço pela entrega de setores estratégicos a terceiros. Como aconteceu na energia e na telefonia, o consumidor paga altos preços por serviços de péssima qualidade. Ao se confirmar a privatização da Sabesp, o cidadão sentirá no bolso mais esse efeito da escolha que fez em 3 de outubro.

Na habitação não é diferente. A mentira da construção ou obras de 220 mil casas se transforma em míseras 59.223 unidades entregues. Se somados ao iniciado na primeira gestão de Mário Covas em 1995, chegar-se-á ao número alardeado. Por outro lado, as casas entregues em muitos conjutos habitacionais são de má qualidade, apresentam rachaduras, infiltrações ou tubulações rompidas.



CPIs abafadas

A base de sustentação do governo Alckmin abafou 69 CPIs. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou à mesa diretora a instalação das CPIs. Até cinco comissões podiam funcionar simultaneamente. As prioridades da oposição eram as CPIs da Febem, Calha do Tietê, CDHU, Nossa Caixa e Rodoanel. Nenhuma delas foi instalada. A imprensa, comprometida, permaneceu em silêncio sepulcral quanto ao abafa. As CPIs pretendidas eram:

CPI da Febem - 12 anos de desvio de recursos e violação dos direitos humanos são a marca registrada das administrações do PSDB. Pedida em 2003, a CPI pretendia investigar a demissão e afastamento de servidores concursados substituídos por pessoas indicadas pelos tucanos, exploração de mão de obra e falta de segurança para seus trabalhadores. Suspeita de superfaturamento na construção e reformas de unidades e má administração dos recursos públicos por parte da direção da instituição.

CPI da Calha do Rio Tietê - Obra anunciada como uma das principais bandeiras do PSDB custou R$ 1 bilhão aos cofres públicos, dinheiro gasto em contratos sob suspeita de irregularidades, mostrou ineficiência no combate às enchentes, além de provocar contaminação ambiental. Dos dez processos em investigação, dois deles foram foram julgados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). A obra que tinha custo inicial de R$ 688 milhões e já superou R$ 1 bilhão. Outra questão grave foram os despejos de areia e lixo do fundo do rio na Lagoa Carapicuíba, o que provocou a morte de toneladas de peixes. O que se viu no decorrer dos anos que se seguiram frami enchentes e prejuízos a milhares de moradores.

CPI da CDHU - Além da compra de terrenos superfaturados, um deles em Americana e que pertencia a uma empresa do ex-secretário dos Transportes, Michael Paul Zeitlin. A investigação seria para avaliar se o valor pago correspondia ao mercado. Há outros 350 contratos de superfaturamento de terrenos e obras no rol, todos rejeitados pelo TCE.

CPI da Nossa Caixa - O banco gastou  R$ 43,8 milhões em publicidade de deputados aliados com dinheiro público.

CPI do Rodoanel - Superfaturamento nos gastos das obras, orçados inicialmente em R$ 338,8 milhões do trecho Oeste, subindo para R$ 575,8 milhões, contrariando a lei que prevê um limite de 25% acima do preço inicial, sob pena do governo ter de fazer nova licitação e anular os contratos anteriores. Com atraso - a entrega da obra estava prevista para dois anos foi entregue em quatro -, somaram-se outros gastos com desapropriações, cujo custo se elevou para R$ 1,3 bilhão. O projeto ainda teve a inclusão de serviços não previstos originalmente, substituição de serviços contratados por outros semelhantes - com preços mais elevados - falha no projeto básico, entre outros.

Outras CPIs - Sonegação fiscal do Mc Donalds, compra de energia elétrica por empresas estatais paulistas, contamiação do solo, irregularidades na TV Cultura, violência policial, crime organizado na área fiscal, irregularidades no Metrô (dará origem ao caso Alstom - servidores de alto escalão do governo recebram propina para favorecer a empresa estrangeira), etc.

Nada disso foi investigado. A imprensa, que recebia (e recebe) dinheiro público para contratos sem licitação, nada disse sobre esse abafa nas irregularidades do Governo do Estado, passando a ideia de austeridade e probidade com a coisa pública.

Como há uma certa preguiça da população em saber como os eleitos administram o dinheiro público arrecadado com os impostos, a sociedade espera que essa tarefa de fiscalização seja efetuada pela imprensa. Como a grande imprensa comercial não tinha ( e não tem) nenhum interesse em divulgar as maracutaias dos governos tucanos em São Paulo, o eleitor foi às urnas no último dia 3 de outubro para depositar seu voto em Geraldo Alckmin, o que fará com que as 69 CPIs sejam sepultadas de vez, visto o grande número de deputados da legenda e da tradiconal base de apoio dos tucanos (PV, PTB, PSC, PSB e DEM) eleitos.

Consequências

Se o leitor perceber, o governo Alckmin tem tudo para ser igual ao que já foi. A imprensa continua na blindagem aos tucanos e assim será porque a verba de publicidade estará concentrada nos mesmos veículos dessa mesma imprensa. Por isso que Geraldo Alckmin ganhou a eleição. O eleitor desconhece essas 69 CPIs engavetadas. Diferente da pressão que essa mesma mídia investe contra adversários dos tucanos. Note-se que uma tapioca de R$ 8,30 rendeu uma CPI no Congresso Nacional contra o governo federal em 2009.

A solução para uma boa informação são os blogs independentes, uma vez que estes não têm compromisso com nenhum governo. A verdade dos fatos deve sempre prevalecer.
Enquanto o brasileiro não tiver o hábito de procurar a informação fora do eixo da grande imprensa, restar-lhe-á apenas a lamentação é o conformismo. Por isso:

Se o seu filho não aprender a escrever o nome, interpretar uma leitura ou fazer as quatro operações matemáticas, sente-se e chupe um picolé de chuchu;

Se você a um posto médico e não encontrar os profissionais da área ou não tiver os remédios necessários, vá até a esquina mais próxima e chupe um picolé de chuchu;

Se você sente-se inseguro ao sair nas ruas, seja durante o dia ou não, permaneça em casa e chupe um picolé de chcuchu;

Se você precisar viajar pelas rodovias paulistas privatizadas, mas não tiver o dinheiro para pagar os pedágios, fique em casa e chupe um picolé de chuchu;

Se a sua casa encher de água durante as chuvas, suba no telhado e chupe um picolé de chcuchu;

Se você...