sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mães de Maio relembram descaso do estado paulista com assassinatos de jovens em São Vicente

Em mais um ano, as Mães de Maio relembram o descaso do estado paulista em apurar os assassinatos de seus filhos ocorridos em maio de 2006, durante uma onda de ataques que vitimou quase uma centena de jovens na Baixada Santista. A estas mães juntaram-se outras, cujos filhos foram assassinados em abril de 2010 também na região.

A coordenadora do movimento Mães de Maio e também mãe de Edson Rogério Silva dos Santos, 29, que era gari e foi assassinado em maio 2006 durante ataques, Débora Maria da Silva, não se conforma com o descaso do estado em apurar as mortes. "O estado (de SP) está matando o trabalhador".

Segundo ela, o toque de recolher naquele Dia das Mães de 2006 foi dado pela polícia. "A polícia matou meu filho".



Como foi

Débora Silva conta que, na época, segundo a polícia, uma viatura teria ido atender a uma ocorrência de homicídio e cuja vítima era Edson Rogério (seu filho). "No velório, um frentista de um posto de gasolina viu quando meu filho (Edson) foi abordado por duas viaturas da PM. Ele foi pesquisado junto ao Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM) 23 vezes".

Com esses detalhes, a mãe procurou o Comando de Policiamento do Interior 6 (CPI-6) para solicitar uma cópia da gravação do COPOM - as narrativas da expedição de ocorrências são todas gravadas pelo centro de operações -, mas teve uma surpresa e acusa a PM. "O comando da PM da região sumiu com fita. Um capitão afirmou que o COPOM estaria quebrado desde 26 de abril. Não é verdade".

A mãe não se conforma com o descaso na apuração das mortes pelas autoridades estaduais. "O governador dá declaraçoes fascistas num dia e, no dia seguinte, acontecem mais mortes".

Débora diz que iniciou um movimento pedindo uma intervenção federal na Baixada Santista porque o governo paulista não atende nenhuma das reivindicação. E mais. "Nós solicitamos uma audiência com o governador (José Serra antes e Geraldo Alckmin, agora) ou com o secretário de Segurança Pública (Antonio Ferreira Pinto), mas estes não comparecem, limitando-se a enviar apenas indicados". E faz uma constatação. "Nós queremos respostas deles, olhar nos olhos deles, e não dos indicados".




Blindagem midiática

Os meios de comunicação, neste caso específico emissoras de TV da região, limitam-se apenas a mostrar o desespero das mães ante a falta de investição para apurar as mortes, uma vez que não ouvem ninguém do governo ou da Polícia Militar, sugerindo que existe uma blindagem midiática ao Governo do Estado.

Se levarmos em conta as eleições, a afirmação se confirma. Durante os pleitos de 1989 até 2010, percebeu-se que a grande mídia tradicional (emissoras de tv e rádio e jornais e revistas) é complacente com desvios, deslizes e até crimes cometidos pelos governos PSDB, DEM, PPS e outros de direita, mas é implacável nas acusações contra PT e outros partidos da chamada esquerda, inclusive com onda de boataria como verdades inquestionáveis, invenção de fatos e superdimensionamento de outras tantas bobagens. O mesmo já não ocorreria com a direita, cujas notícias ruins são omitidas ou recebem um viés editorial mais brando ou mesmo desaparecem da noticiário. 





Militarismo

Não se pode afirmar com exatidão que essa onda de assassinatos foi cometida ou não por policiais militares, mas não se pode omitir que o militarismo nas forças policiais dos estados é um regime arcaico, cruel e desumano e que não tem nada a ver com atualidade de um país democrático, uma vez que, ao invés de formar um agente policial amigo do cidadão, formará um PM que vai ver o cidadão civil como um inimigo em potencial. Ou seja, o curso de formação irá deformá-lo.  

Em uma Tese de Mestrado baseada na Polícia Militar de Goiás, por Aguinaldo José da Silva (link mais abaixo), o autor elenca uma série de incorporações em seu caráter que o aluno deverá absorver quando ingressar e iniciar o curso de formação de polícias militares, provando que a doutrina, o treinamento e a cultura militar nas forças policiais estaduais não condizem com a tarefa futura que o PM irá viver, depois de formado, nas ruas no trato com os cidadãos e trabalhadores civis das cidades e municípios. 

Termos como "instituição total, mortificação do self, dupla esteriotipia e ideologia belicista" darão uma noção do que o cidadão, geralmente jovem que entra nas fileiras da Polícia Militar dos estados, terá de suportar na escola de formação - cuja duração, em São Paulo, é de um ano - antes de sair às ruas para interagir com o cidadão civil e também agir nos diversos tipos de ocorrências que atenderá a bordo de uma viatura policial. Leia a tese aqui





A coordenadora do movimento Mães de Maio garante que a desmilitarização da PM e a sua
inserção na política de Direitos Humanos faz parte de suas reivindicações. Por outro lado, constatasse que essa não será uma tarefa fácil, uma vez que essa mudança - ao sistema democrático - já foi tentada por diversas vezes, mas esbarrou no lobby dos oficiais de alta patente da corporação e na intransigência de alguns governos descompromissados com os seus cidadãos. Voltaremos ao tema em outra oportunidade, explicando o porquê de tanta resistência para transformar as polícias militares em organizações eminentemente democráticas.





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